Opinião

Feira feita de encontros

O encontro entre o patrono Blau Nunes e o orador Aldyr Garcia Schlee é o tema da [magis]+ dessa segunda-feira

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A Feira do Livro deste ano já se justificaria por um simples achado: o encontro entre o patrono Blau Nunes e o orador Aldyr Garcia Schlee. Amigos há décadas, ambos são - e não há quem duvide, vivente ou não - narradores de João Simões Lopes Neto. Sim, porque também Schlee, como Blau, é - de (in)certo e estranho modo - uma invenção simoneana. O sopro criador da linguagem de Simões impregnou a vida e a literatura de Schlee. O olhar para os pequenos e rejeitados, para os que necessitam, como eu, do milagre ou da possibilidade dele, estão tão fortes (ainda que de maneira diferente) tanto em O dia em que o papa foi a Melo quanto em Contos gauchescos. Erosões da morte e eclosões da vida, diria Simões, ao apresentar Blau.

Schlee era o homem certo para, na terra da Estância da Graça, onde nasceu Simões, colocar-se ombro a ombro com o querido digno velho Blau. Por isso, a abertura da Feira do Livro de Pelotas, na última quinta-feira, formou-se em estado de espanto. E de encanto. Deu-se, ali, naquele entardecer em plena praça Coronel Pedro Osório, diante de todos, o que parecia impossível: o inédito e improvável diálogo entre Blau e Schlee. De rara beleza, em meio ao barulho de alguns que, como sempre, passam descuidados do essencial, a conversa entre os dois narradores foi - e não há outra palavra possível - genuína. Reproduzir trechos isolados seria trair a perfeição do todo. O encontro vale publicação na íntegra.

Como se disse, apenas pelo caminhar de braços dados, como velhos amigos que são, de Blau e Schlee, a Feira já valeria. Há, nela, ainda os muitos lançamentos de autores locais. Mais: há oficinas literárias, para quem tem gosto pela escrita e busca os caminhos do melhor contar, com gente de peso, como Paulo Scott e Paula Fábrio. Há também boas livrarias e, mais do que em outros anos, descontos interessantes na compra de livros. Na Feira, extremamente democrática, pode-se encontrar livros de R$ 1,00 a mais de R$ 100,00. A Feira é para todos os bolsos, portanto. Até para os vazios. Mesmo sem dinheiro - e muitas vezes na minha adolescência caminhei pelas alamedas da praça sem um tostão -, transitar pela Coronel Pedro Osório em tempo de livros por todos os cantos e de gente disposta a muitos encontros é respirar cultura.

No centenário de morte, João Simões Lopes Neto - como é próprio de todo grande autor - continua a fecundar territórios, a inspirar. Schlee e Blau Nunes estão aí para dar testemunho. Conta-se que o narrador de Contos gauchescos e o autor de O dia em que o papa foi a Melo combinavam, aos cochichos, depois da abertura da Feira, uma visita a Jaguarão, com a ressalva de evitar tratativa alguma que fosse com qualquer contrabandista. E, claro, o romper do choro na casa toda. Uma ida ao Theatro Esperança, restaurado, ficaria de bom tamanho. Há quem jure, de pés juntos, que o dito é real.

A Feira do Livro se encerra no dia 20. Até domingo, de acordo com os organizadores, mais de 12 mil livros haviam sido vendidos. As bancas estão abertas, de segunda a sexta, das 13h às 22h. Se não houve dinheiro para compra alguma, o passeio, ainda assim, vale a pena. Ver Aldyr Garcia Schlee e Blau Nunes conversando por lá, como as melhores coisas da vida, não custa nada.

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Schlee sorri para Blau Nunes que preferiu não ser fotografado (Foto: Jô Folha)

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